Na Folha de São Paulo --- texto de: Mário Moreira



16/09/2011 - 22h00

Mostra tenta revigorar arte postal no Brasil

MÁRIO MOREIRA
DE SÃO PAULO

É possível fazer arte no espaço de um cartão-postal? Muita gente acha que sim. E faz. São os adeptos da arte postal, gênero que surgiu nos EUA nos anos 60, teve importância no Brasil nas décadas de 70 e 80 e agora busca sair de um certo ostracismo.
Há 30 anos radicada no país, a artista portuguesa Constança Lucas, 50, é uma das que tentam revigorá-la. Para isso, organizou a exposição "Arte Postal - Os Livros", que será aberta neste sábado na Alpharrabio Livraria e Centro Cultural, em Santo André, e exibida em março na galeria Gravura Brasileira (www.gravurabrasileira.com), em Perdizes (zona oeste de São Paulo).
Basicamente, a arte postal consiste em utilizar envelopes e cartões-postais como suporte para trabalhos visuais (desenho, pintura, fotografia, colagem etc) enviados pelo correio.
O conceito é fazer circular esses trabalhos, com ampla liberdade de criação e sem intuito comercial, explica Constança. "É simplesmente a troca e a partilha da arte", diz.
Participarão da mostra 289 artistas de 20 países, num total de quase 600 trabalhos.
Divulgação
Trabalho de Paulo Bruscky para "Arte Postal - Os Livros"
Trabalho de Paulo Bruscky para "Arte Postal - Os Livros"
O tema da exposição será o livro. "Num momento em que se fala de e-books e livros virtuais, queremos pensar no que é o livro como objeto e nossa relação de afeto com ele", afirma Constança. "É um suporte antigo, o cartão-postal, falando de um tema antiquíssimo", diz a artista.
POLÊMICA
No Brasil, a arte postal teve seu apogeu nos anos 70, quando foi usada por artistas como forma de fazer circular suas ideias, sem a censura imposta aos meios de comunicação pela ditadura.
O pernambucano Paulo Bruscky, 62, foi o nome de maior destaque na época, quando, segundo ele, "o correio era eficiente e você podia trocar informações".
"Essa forma de arte foi importantíssima nas ditaduras da América Latina, porque as ideias voavam livres", diz Bruscky, que chegou a ser preso por "subversão" após organizar sua segunda mostra de arte postal, em 1976.
Para Cristina Freire, vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP e autora de livros sobre o tema, não há como a arte postal se equiparar ao que foi nos 70.
Divulgação
Trabalho de Lourdes Maceiras para a exposição
Trabalho de Lourdes Maceiras para a exposição
"Ela funcionou muito como estratégia de troca de informações. Hoje, você quase não vê artistas trabalhando nessa chave", afirma Freire.
"A arte se transformou enormemente com a internet", diz Walter Zanini, que dirigiu o MAC-USP de 1963 a 78 e organizou mostras que incluíam arte postal. "O espírito dela, de discutir a expressão livre, não é ultrapassado, mas hoje há outros meios de fazer circular as ideias."
Para Paulo Bruscky, a arte postal (que ele chama de "arte correio") continua bem viva. "A gente já tinha consciência de fazer um trabalho em rede, embora não num meio eletrônicoº, diz. ªMas a discussão é interminável."
ARTE POSTAL - OS LIVROS
ONDE Alpharrabio Livraria e Centro Cultural (r. Eduardo Monteiro, 151, Santo André; tel. 0/xx/11/4438-4358)
QUANDO neste sábado (17), das 10h às 16h; de seg. a sex., das 13h às 19h; sáb., das 9h30 às 13h; até 15/10
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre

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